Eu sei que o capitalismo é um sistema (antes de mais nada injusto) que pode vir a ser, digamos, insistente e/ou chato. Como proletária que trabalha lidando com o público em profissões que tendem a ser desvalorizadas por muitos (padaria, pizzaria, panfletagem, bar, passeadora de cães, vendedora de sanduíche natural na rua, etc), aprendi na marra o que é tentar ser um bom cliente.
Quando te peço para que não seja um cuzão, peço que tente enxergar o privilégio de estar ali como pessoa a ser servida de alguma maneira. Gostaria de afirmar que nunca me envergonhei de trabalhar honestamente em empregos que me ajudam a pagar o aluguel e a sobreviver nesse mundo louco. Só que todos os dias me parece cada vez mais inevitável esse assunto.
Como citei entre parênteses acima, um dos trabalhos que já realizei foi a panfletagem. Se eu pudesse dar outro nome a essa função, seria “tornar-se invisível”. Empresas de panfletagem deveriam se chamar “capa da invisibilidade”. Caso não tenha ficado óbvio, justifico dizendo que é como você cliente, andando tranquilamente na rua ou estacionado no sinal, faz eu me sentir: Invisível.
Falando bem diretamente, você acha mesmo que eu não estou vendo você fechar o vidro do seu carro (enquanto eu estou em pé há horas no sol quente e bafo de asfalto) só para não ter que dizer que não quer receber aquele maldito panfleto? Pois saiba nesse momento que EU ESTOU. Não estou dizendo que você tem obrigação de aceitá-lo, mas que não te custa absolutamente nada. Na realidade, é de graça dizer que não quer também, sem precisar ignorar completamente a minha existência cansada. Vocês já imaginaram como é ser gari? O lixo está ali, DO SEU LADO, mas você tem o desleixo de jogá-lo no chão só por não ter a preocupação de ser você a ter que limpar. É ridículo! São hard times, amigos.
Tenho vergonha de ter que questionar se vocês já tentaram se colocar no lugar do outro que está ali, te servindo de alguma forma. E não tem nada a ver com receber educação ou whatever, tô pedindo o mínimo do bom sendo mesmo. Então peço novamente, caro cliente, don’t be an ass.